“Mente sã, corpo são”. 11 relatos de superação no futebol

Sindicato dos Jogadores assinala Dia Mundial da Saúde Mental.
Em 2016, a Direção Geral de Saúde (DGS) indicava que, em Portugal, 20% da população sofria de alguma perturbação mental e que 4% apresentava algum transtorno psicológico grave. Portugal é o segundo país com maior prevalência de doenças psiquiátricas e os jogadores de futebol em muito contribuem para esse facto. Segundo a FIFPro, em 2016, 43% sofria de ansiedade ou depressão, 33% dos jogadores que estavam no ativo sofriam de perturbações do sono e 18% de stress. Após terminarem a carreira, há uma maior tendência para que os atletas passem a ter uma alimentação desregulada (65%), mas o número de casos de ansiedade ou depressão tende a baixar quando a carreira termina (35%).
Problemas familiares, lesões prolongadas, ordenados em atraso, doença e negócios mal sucedidos são algumas das principais causas que podem abalar psicologicamente um jogador. O Sindicato relembra onze casos em que uma boa saúde mental foi determinante:
Miguel Garcia
Sofreu uma lesão grave, quando estava ao serviço dos italianos do Reggina, em 2008, e um ano depois viu-se no desemprego. O Sindicato abriu-lhe as portas no Estágio do Jogador, e, mais tarde, o defesa viria a assinar contrato com o Olhanense, da Primeira Liga. A meio da época 2009/10 transferiu-se para o SC Braga, tendo disputado a final da Liga Europa na temporada seguinte.
“Talvez os jogadores mais mediáticos, que ganharam muito dinheiro, não vão querer expor-se dessa maneira, enquanto para outros é uma coisa normalíssima, jogadores que não tendo feito uma carreira tão boa em termos financeiros vão ter mesmo de deitar esses preconceitos para trás das costas. Decidi procurar o apoio do Sindicato e foi a melhor decisão que tomei, sem dúvida”, afirma o ‘herói de Alkmaar’.
Recentemente, Miguel Garcia licenciou-se na área do investimento imobiliário.
Daniel Faria
Limitado por uma lesão no menisco e tendão quadricipital, o jogador natural de Braga foi forçado a terminar a carreira precocemente. O futuro passou por concluir o curso de treinador e fazer a licenciatura em Gestão Desportiva, apoiada pelo Sindicato dos Jogadores.
“Quero agradecer ao Sindicato e a todos os que me prestaram apoio. Não é uma situação fácil pôr termo à minha carreira, como devem imaginar. O futebol é assim, tenho de me agarrar às coisas boas que aprendi. Se for possível, estarei brevemente de regresso ao mundo do futebol. Este capítulo fechou-se. Não dá mais, já chega deste calvário”, anunciou Daniel Faria.
Bruno Simão
Depois de sofrer um grave acidente de viação, o jogador do Casa Pia recuperou a saúde, mas não só. A perspetiva de uma futura carreira como Técnico de Exercício Físico fê-lo recuperar também o entusiasmo. Pouco depois do acidente, Bruno Simão foi contactado pelo Sindicato dos Jogadores, que lhe abriu a possibilidade de fazer uma formação – com custos integralmente suportados, no seu caso – para Técnico Especialista em Exercício Físico, no âmbito da parceria recém-criada com a Holmes Place Academy.
O futebolista não precisou de pensar muito para agarrar o novo rumo com as duas mãos: “Depois do acidente comecei a ver a vida com outros olhos, a dar importância a outras coisas e a pensar mais a sério no que vinha aí. Já tinha umas luzes, mas nada de muito sério. Até que o Sindicato me proporcionou esta oportunidade fantástica, numa área que já queria seguir há muito tempo, porque tenho muitos amigos nesta atividade”, revela, admitindo que como profissional sempre teve um gosto especial em fazer trabalho de ginásio.
Humberto Miranda
Em maio de 2008, o Sindicato auxiliou Humberto Miranda, que, em 2005, perdera as duas pernas num acidente de viação. Além de todo o apoio jurídico, o Sindicato ofereceu próteses ao ex-atleta. Neste momento, Humberto joga basquetebol em cadeira de rodas no SCP-APD Sintra.
Paulo Grilo
Aos 26 anos, venceu um problema oncológico e voltou a jogar futebol, após uma paragem forçada de sete meses. O plantel do Santa Clara manteve sempre uma forte ligação com Paulo Grilo, tendo dedicado todas as vitórias ao jogador e mantendo a sua camisola no balneário em todos os jogos. "Apesar de não estar presente, demonstraram que fazia parte do grupo. Enviaram-me várias mensagens e o treinador estava sempre a ligar-me. Nunca deixaram de mostrar preocupação", revelou Paulo Grilo.
Atualmente, o centrocampista representa o Lourosa, do Campeonato de Portugal.
Rudolph Amessan
Aos 27 anos, o costa-marfinense viveu o drama de ficar sem trabalho e impedido de jogar, tendo pedido apoio jurídico e financeiro ao Sindicato dos Jogadores. O futebol é um mundo de sonhos, mas é também capaz de tratar de forma desumana as estrelas do desporto. O Sindicato dá como exemplo um jogador que viveu de caridade, preso por um contrato que o impedia de jogar mesmo sem receber salário, no Luxemburgo. O atleta contornou a situação e agora representa o Onisitos Sotiras 2014 FC, do Chipre.
Tengarrinha
Bernardo Tengarrinha revelou em 2017 que começara uma luta contra um linfoma de Hodgkin, suspendendo assim a sua carreira de futebolista aos 28 anos.
O anúncio foi feito numa iniciativa do Sindicato de Jogadores, de apoio à saúde mental. Recorde-se que Bernardo Tengarrinha é o embaixador do Projeto de Saúde Mental do Sindicato dos Jogadores.
O jogador que já atuou no FC Porto, Estrela da Amadora, Olhanense, Santa Clara, Vitória de Setúbal, Freamunde, Desportivo de Chaves e Boavista é agora adjunto dos sub-23 do Vitória de Setúbal.
Amido Baldé
Uma tromboembolia pulmonar quase que lhe custou a vida. Ao mesmo tempo, o internacional guineense deparou-se com mais um problema: o clube com que tinha contrato não lhe pagava há dez meses e nem contribuía com as despesas hospitalares. Procurou ajuda junto do Sindicato dos Jogadores que ofereceu apoio financeiro e assistência jurídica. Após validação médica, Baldé voltou a competir.
Hugo Vieira
Em 2015, Hugo Vieira contou ao site do Sindicato dos Jogadores o drama que viveu nos últimos anos, ao lado da namorada que lutava contra um cancro. O jogador, que representa atualmente o Yokohama Marinos, contou tudo aquilo que viveu nos últimos anos.
"Não é fácil lidar com uma perda, é duro perder uma pessoa que amamos, mas mais duro que isso é perder a nossa vida, os nossos sonhos, tudo o que planeei até hoje. Tudo o que sonhava era ao lado dela e isso não existe mais. Não tenho mais sonhos", contou o antigo jogador do Benfica.
O ex-jogador do Gil Vicente contou algumas decisões que tomou para ficar perto da namorada e acompanhá-la nos tratamentos. Um dessas decisões foi abandonar o Sporting Gijón em 2012/2013, onde estava por empréstimo do Benfica.
Hoje, Hugo Vieira é um dos jogadores mais aclamados da liga japonesa.
O caso Sofia Farmer
Três jogadores foram de Portugal para a Irlanda do Norte com a promessa de um contrato profissional no Sofia Farmer, clube que milita no terceiro escalão do futebol norte-irlandês. Gerson Gussule, guarda-redes moçambicano de 20 anos, e Carlos Canedo, jogador português de 23 anos, partiram em busca do sonho de se tornarem profissionais de futebol, que se transformou num pesadelo.
“Fomos tratados como lixo. Não nos pagaram o salário prometido, fomos obrigados a arranjar um emprego extra futebol e dormi num sofá um mês inteiro”, revela Gerson, desolado com o ambiente que encontrou na Irlanda do Norte.
O Sindicato conseguiu “libertar” desportivamente os jogadores, sem custos adicionais para os mesmos.
Tudo sobre o projeto Saúde Mental do Sindicato dos Jogadores AQUI.