Inclusão de migrantes e refugiados no desporto em debate
Conferência europeia reuniu organizações nacionais e internacionais na Cidade do Futebol.
No âmbito do projeto SPIN – Sport Inclusion Network, decorre nos dias 23 e 24 de novembro, na Cidade do Futebol, uma conferência europeia que debate a inclusão de migrantes e refugiados no desporto.
Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores, um dos oito parceiros do projeto SPIN, deu o pontapé de saída da conferência, apelando à união de todos no apoio à integração dos migrantes e refugiados.
“Em Portugal, o futebol tem uma responsabilidade maior, proporcional ao seu impacto social e económico. As perseguições, conflitos e violações dos direitos humanos preocupam-nos, pela fragilidade da situação em que essas pessoas se encontram. Não podemos ignorar este contexto. A crise de refugiados é um problema que exige coragem, uma cidadania ativa, cooperação e compromisso”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jogadores.
A opinião foi partilhada por Kurt Wachter, coordenador do projeto SPIN, que sublinhou a importância do desporto como ferramenta de inclusão social: “Quando vemos refugiados da Síria, do Afeganistão e do Iraque a chegarem aos nossos países, com fome, o desporto assume um papel fundamental na sua integração”.
Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), deu o exemplo de jogadores como Eusébio, Coluna, Nani e Bruma que tiveram sucesso no futebol devido a “políticas e práticas responsáveis de inclusão desportiva”.
Para integrar migrantes e refugiados na sociedade, nada melhor do que o desporto, na opinião de João Paulo Rebelo, Secretário de Estado da Juventude e do Desporto: “Não existe, atualmente, melhor veículo para promover, conjuntamente, os valores da inclusão social, do pensamento coletivo da união, da amizade, da solidariedade, entre muitos outros valores de natureza ética, e não só, essenciais para uma vida civilizada e saudável em sociedade”.
O projeto SPIN é financiado pelo programa Erasmus+, da Comissão Europeia, tendo como missão integrar migrantes, minorias e refugiados no e através do desporto. São parceiros do projeto o Sindicato dos Jogadores (Portugal), o VIDC-Fairplay (Áustria), a Camino (Alemanha), a Federação Irlandesa de Futebol (Irlanda), a Mahatma Gandhi Humans Rights Organization (Hungria), a Liikkukaa (Finlândia), a UISP (Itália) e a FAROS (Grécia).
Painéis de oradores discutiram políticas de inclusão social
O primeiro dia da conferência europeia do projeto SPIN, subordinada ao tema “Inclusão de migrantes e refugiados no desporto, numa Europa em transformação”, ficou marcado pela realização de dois painéis de debate e quatro workshops.
Pedro Calado (Alto Comissário para as Migrações), Mário Rui André (Plataforma de Apoio aos Refugiados), Tito de Matos (Diretor do Centro de Acolhimento para Refugiados), Varpu Taarna (Ministério dos Assuntos Económicos e do Emprego da Finlândia) e Paulo César Teixeira (Vereador do Desporto da Câmara Municipal de Odivelas) debateram como é que o desporto pode contribuir para a construção de uma Europa diversificada e inclusiva.
Mário Rui André deu o seu exemplo, revelando que esteve na Grécia a receber pessoas oriundas da Síria: “Foi aí que percebi que estas pessoas viveram em situações perfeitamente degradantes em termos de dignidade humana e, quando olhamos para elas, temos de as respeitar”.
Na linha do que foi dito pelo representante da Plataforma de Apoio aos Refugiados, Tito Matos afirmou que “o acesso ao desporto é muito importante para os migrantes e refugiados como terapia, porque estamos a falar de pessoas que passaram por situações muito traumáticas e de grande sofrimento em termos humanitários”.
Paulo César Teixeira revelou que a Câmara Municipal de Odivelas tem a preocupação de integrar as crianças refugiadas que frequentam as escolas do concelho: “Procuramos envolvê-las na comunidade escolar, no âmbito do desporto, integrando a família dos meninos refugiados na sociedade”.
O Alto Comissário para as Migrações, Pedro Calado, sublinhou que a inclusão de migrantes e refugiados é “uma matéria da maior relevância social e política nos dias que correm e um desafio de toda a comunidade”.
A segunda mesa-redonda, que teve como oradores Francisca Araújo (área da Responsabilidade Social da FPF), Ana Ribeiro (área da Responsabilidade Social da Liga Portugal), Obert Makaza (Projeto Galway Bridge), Aisha Albella (Fundação FC Barcelona) e Jonathan Fadugba (Rede FARE – Football Against Racism in Europe), abordou os desafios e as necessidades das organizações desportivas, migrantes e refugiados para a inclusão social através do desporto.
Francisca Araújo revelou que a FPF tem trabalhado em parceria com o Comité Olímpico de Portugal e a Plataforma de Apoio aos Refugiados no desenvolvimento de várias atividades. “A inclusão social passa pela integração das pessoas na nossa organização e estamos a trabalhar nesse sentido”, disse.
A mesma ideia foi partilhada por Ana Ribeiro, da Liga Portugal: “Temos incluído refugiados e migrantes nas nossas equipas de trabalho, através do voluntariado, nomeadamente nas organizações dos eventos da Liga Portugal”.
O primeiro dia da conferência europeia do projeto SPIN, na Cidade do Futebol, terminou com a realização de quatro workshops, que apresentaram exemplos práticos do trabalho que é feito com migrantes e refugiados nas organizações europeias, partilhando as experiências vividas nos diversos países.
O evento prossegue este sábado, 24 de novembro, com a realização de três mesas-redondas, que terão uma duração entre 45 minutos e uma hora.
Veja AQUI o programa completo da conferência europeia do projeto SPIN.