Tráfico humano em debate no Player`s Corner


Dia Europeu assinalado por Sindicato dos Jogadores e Polícia Judiciária em conferência conjunta.

Vídeo com declarações do presidente do Sindicato dos Jogadores

Vídeo com declarações do diretor nacional da Polícia Judiciária

O Sindicato dos Jogadores, em estreita colaboração com a Polícia Judiciária (PJ), organizou esta quarta-feira uma conferência, intitulada “Tráfico Humano é Crime”, para assinalar o Dia Europeu do Combate ao Tráfico de Seres Humanos.

Esta iniciativa, que contou com intervenções do presidente do Sindicato, Joaquim Evangelista, e do Diretor Nacional da PJ, Luís Neves, foi levada a cabo no âmbito do Player's Corner, um espaço de discussão aberto, democrático e plural, que reflete sobre os grandes temas do futebol português, sob o ponto de vista do jogador, tantas vezes deixado à margem em matérias que lhe dizem estritamente respeito.

Numa data tão significativa para uma causa pela qual o Sindicato tem estado sempre na linha da frente, e num ano civil com acontecimentos marcantes para o tema do tráfico humano em Portugal, impunha-se uma reflexão aprofundada e estruturante sobre este flagelo que assola o futebol nacional.

Para além da premência da discussão em si numa data especial, foi também simbólico que este evento tenha decorrido na sede da Polícia Judiciária, instituição a quem foi atribuída recentemente competência exclusiva para intervir nas matérias em causa.

O presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, destacou a importância da apresentação pública deste dossier: “É responsabilidade do Estado resolver este problema, mas vamos ajudar todos os jogadores que nos batem à porta. Decidimos produzir este documento, para o manter na ordem do dia. Há fiscalização, regulamentação, mas não há uma rede articulada para resolver estes problemas. Os jovens nestas circunstâncias têm de ter uma resposta adequada. É preciso dar resposta ao problema em conjunto. Nunca entendi como é que as associações de futebol ou as autarquias desconhecem estes fenómenos. Estamos a discutir problemas de direitos fundamentais: tráfico, auxílio à imigração ilegal e burla. O Estado tem de dar uma resposta. O Sindicato pretende suscitar o interesse da comunidade desportiva destes fenómenos. Tráfico, racismo, igualdade de género, match-fixing… Isto põe em causa as fundações do futebol. O que fizermos dirá muito sobre o país que queremos ser.”

“Agradeço ao SEF, que nos permitiu atuar e fazer a diferença no futebol. Sabemos bem da fragilidade das vítimas. Sempre que temos conhecimento de algum jogador nesta situação, atuamos imediatamente. Ajudamo-lo a denunciar e apoiamo-lo no regresso a casa. Se passa um dia ou dois, perdemos o timing e alimentamos o monstro. O Estado tem de abrir a porta a quem precisa de ajuda. Insisto no papel das organizações locais. Por que não criar uma figura fiscalizadora dos clubes locais e perceber a realidade? Valorizavam essas entidades, sejam associações de futebol e câmaras municipais, e ajudavam a combater este flagelo. Sobre o caso Bsports, o que é que aconteceu aos jovens e aos agressores neste caso? Eu não sei de mais nada, não foi mais notícia. Queremos saber isso, qual foi o papel do Estado? Foi só arranjar casa ou tratar aqueles seres humanos de forma digna? Os agressores foram constituídos arguidos? Há inquéritos-crime a decorrer? Espero que a comunicação social ajude nesta matéria também”, concluiu Joaquim Evangelista.

Por sua vez, Luís Neves, diretor nacional da PJ, sublinhou que a resposta ao tráfico humano vai melhorar no futuro: “A comunicação social atravessa momentos particularmente difíceis, com grupos económicos sediados em offshores a comprá-los e quero deixar, por isso, uma palavra aos jornalistas aqui presentes. Palavra de grande apreço pela manutenção da vossa autonomia e da vossa independência. Populismos são mais difíceis de avançar pela vossa luta. A Bola foi criada em 1945, o mesmo ano de fundação da Polícia Judiciária. Se a paixão passa a ser uma tortura, o stress pós-traumático passa a ser uma constante na vida dessa pessoa. Vivemos sempre com a angústia de não ter gente para resolver os problemas, a manta era demasiado curta. O SEF a mesma coisa. Tomara nós termos recursos humanos para podermos cobrir todos os crimes que são da nossa responsabilidade. A organização e muito menos as pessoas não podem ser responsabilizadas por isso. Agora temos pessoas do SEF a trabalhar connosco e estamos convencidos que a resposta ao tráfico de seres humanos será bastante diferente para melhor.”

“As vítimas de tráfico não falam porque vivem petrificadas pelo medo. Não podem denunciar. Isto é válido aqui, como é válido no match-fixing, na manipulação desportiva, no assédio. Porque não há propriamente uma vítima. Há documentos elaborados por jornalistas que levam à abertura de investigações. A Sociedade civil tem de querer estar presente. O Sindicato assume esta função e tem assumido de forma galharda. O Sindicato está no terreno e conhece sítios e pessoas que nós não conhecemos. A informação de atividades suspeitas tem de nos ser sempre transmitida. Quero dizer-vos a todos que estamos muito expectantes por esta transformação pelo facto de recebermos 750 pessoas do SEF. A Polícia Judiciária assumirá por completo este papel e o que se passa com o Sindicato deve ser alargado a outras esferas. A polícia não é nenhum papão, a polícia precisa de ser informada. Toda a gente pode falar connosco”, finalizou Luís Neves.

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