Importância do futebol na luta pela igualdade debatida em webinar
Abel Xavier, embaixador do Sindicato contra o racismo, foi um dos oradores.
Em vésperas do Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial, que se assinala na próxima segunda-feira, 21 de março, a Liga Portugal organizou, em parceria com o Sindicato dos Jogadores, a APAF e a ANTF, um webinar sobre a importância do futebol na luta pela igualdade.
Abel Xavier, embaixador do Sindicato dos Jogadores contra o racismo e a violência no desporto, foi um dos oradores presentes, bem como o treinador Domingos Paciência, o árbitro Victor Gomes e o coordenador da Fundação do Futebol, Luís Estrela, num painel moderado por Vanda Cipriano, da Liga Portugal.
A discriminação no futebol, as experiências noutros países, o conflito na Ucrânia e a experiência pessoal dos intervenientes foram os assuntos abordados no webinar, com destaque para a intervenção de Abel Xavier.
O ex-internacional português fez questão de sublinhar que todos nós fazemos parte da solução para acabar com a discriminação racial. “O futebol projetou-me para outras realidades, culturas, realidades e religiões. Na Turquia converti-me ao islamismo, mas recordo que nasci no norte de Moçambique que tem 27 milhões de habitantes, muitos deles muçulmanos. Tenho família muçulmana, mas também católica e cristã. Não vejo que tenha alterado a minha essência ou forma de estar na vida. Sempre fui pela integração e aceitação das diferenças nas minorias. Racismo, discriminação… são problema da sociedade. O futebol tem um impacto fortíssimo a esbater as diferenças que, para mim, não existem. Racismo? Nem se coloca - para mim só existe a raça humana!”, frisou.
Abel Xavier lembrou o contributo do futebol para outras alterações estruturantes na sociedade e o papel que desempenha na união entre as diferentes culturas: “Quando falamos de futebol, não podemos esquecer o quanto contribuiu com alterações estruturantes como a Lei Bosman e a permissão de entradas de jogadores em alguns países que passaram a ser inclusivos. Eu joguei em dois clubes rivais em Inglaterra -com apenas 11 km de distância - Everton e Liverpool, cuja rivalidade era cultural. O futebol superou as guerras territoriais. Hoje são estruturas próximas que competem apenas no que interessa. Fui um dos primeiros negros a jogar no Liverpool há 20 anos. O futebol conseguiu pacificar e unificar os cidadãos do mundo, reconhecendo-lhes direito de igualdade. Cabe-nos a nós, como agentes positivos da indústria do futebol, ajudar a minimizar tudo isto e fazer com que todos sejamos educados positivamente para estancar comportamentos dissonantes. A solução passa por todos nós. Todos temos a responsabilidade de identificar pessoas que, nos estádios, assumem atos ou comportamentos impróprios. Todos fazemos parte deste processo. O caminho a percorrer é longo e o objetivo é conseguirmos uma sociedade igualitária. O futebol tem sido exemplo de integração, até no facto de formar homens antes de atletas, passando-lhes valores de aceitação e respeito mútuo.”
O antigo lateral direito condenou a postura dos adeptos que descarregam frustrações nos estádios de futebol, apelando ao envolvimento de todos para minimizar estes acontecimentos: “Vê-se no estádio quem chame nomes ou ataque os outros, soltando frustrações, raivas, problemas pessoais. Fazem do futebol uma arena onde tudo é permitido: cânticos, ofensas, atos de racismo na sua essência. Atacam a cor do atleta, a religião do jogador… Há muita coisa encapotada nestes comportamentos no futebol. Daí que sublinhe: quem assiste a estes comportamentos de adeptos tem de ajudar e identificar estas situações a corrigir. Todos temos de fazer parte. Há muita coisa encapotada nestes sentimentos, até a inveja, que também é uma forma de racismo. Os adeptos descarregam tudo nos estádios de futebol. Temos de estancar isto e fazer alguma coisa.”
A finalizar, Abel Xavier reforçou que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não pode ser vista à distância pelos portugueses: “Está em causa a nossa raça e a nossa existência. Não podemos olhar para esta guerra, só ao longe, sem pensar que não nos toca a nós. Temos de saber aceitar, viver e assistir à realidade de forma ampla e à escala global.”