“Sempre tive perfil para lutar pelos direitos dos jogadores”


O presidente do Sindicato dos atletas de futebol do estado do Rio de Janeiro (SAFERJ) visitou o SJPF e desvendou pormenores sobre a atividade do órgão brasileiro.

Quando foi criado o SAFERJ?
A 19 de novembro de 1979, sete anos depois do SJPF. Foi criado pelo Zico, Zé Mário, Leão e Carpegiani.


Como é que o Alfredo surge no Sindicato?
Eu já era sócio quando jogava futebol. Apareço no sindicato em setembro de 1989. Tinha tido uma passagem pelo futebol português, no Rio Ave, depois estive no Equador e em Chipre. Quando regressei ao Brasil, decidi parar de jogar e isso coincidiu com o convite para ser presidente. Quem estava na presidência antes de mim era o Gaúcho, que tinha sido defesa do Vasco da Gama e tinha parado de jogar para ser treinador.

E ainda é presidente?
Sim, desde 1989. Joguei sempre em clubes menores. Quando entrei, havia uma situação que nunca o sindicato tinha sido comandado por um jogador de clube inferior. Foi a primeira vez que o sindicato teve um jogador de um clube pequeno como presidente. Naquela altura, o sindicato era muito desacreditado. Tinha dificuldades financeiras e isso foi um desafio para mim, e acabou por dar certo.


Como jogador, já se interessava pelas questões sindicais?
Sim, sempre. Não era diretamente pelas questões sindicais mas mais pelos direitos dos jogadores. Nos clubes menores, participava em reivindicações e contestava decisões erradas. Sempre tive esse perfil. O Gaúcho sabia dessa minha característica, por isso é que me fez o convite. Aceitei por impulso, só mais tarde é que fui fazendo algum planeamento, através da motivação e da ideologia e tentei mudar as coisas, até mais como sindicato e não tanto sozinho, como fizera antes. Logo em 1991, quando Zico se tornou Ministro do Desporto, comecei a combater pela questão dos passes e isso durou até 1998. Depois veio outra frente de luta que foi o direito de arena, que é o direito que os atletas têm na participação nos contratos de televisão, que os clubes não cumpriam no pagamento dessa percentagem. Hoje, os clubes são obrigados a dividir cinco por cento do valor desse contrato pelo plantel. Essa luta durou até 2001, quando a gente conseguiu assinar um acordo. Depois disso, foquei-me na Casa do Atleta.


Além desses, que serviços oferece o sindicato brasileiro?
Antes da construção da Casa do Atleta, o único benefício que oferecíamos era o apoio jurídico. Depois passámos a ter esse complexo desportivo, a Casa do Atleta, dois prédios de cinco andares com vários benefícios: aulas de inglês, centros de fisioterapia, apoio jurídico, consultório dentário, piscina. Temos também um projeto de treino para jogadores desempregados que dura todo o ano. E é tudo gratuito, porque o público-alvo é composto por atletas de clubes de divisões inferiores. Temos 200 a 300 atendimentos por semana. É um serviço muito útil que dá grande retorno aos atletas. Estamos prestes a construir um centro de treino também. Vai ser fantástico. E vamos também criar o Retiro dos Artistas da Bola, um local onde vamos abrigar os jogadores que estiverem em situações delicadas, como foi o caso do Perivaldo, que estão na rua e abandonados pela família. Os jogadores que não foram famosos são sempre mais prejudicados.


Quais são os maiores problemas para os jogadores que atuam no Brasil?
O maior problema continua a ser o não cumprimento do contrato de trabalho. Isso deve-se à má gestão dos clubes, isso gerou um passivo muito grande. Esse facto tem uma influência muito grande no dia-a-dia do jogador. Na I Divisão brasileira, o problema é minimizado, porque o salário atrasa mas é pago. Temos outras questões também, como o calendário nacional que é muito preenchido. O São Paulo, por exemplo, vai jogar 80 jogos esta época. As competições são muitas: Campeonato Estadual, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Copa Sul-Americana e a Taça Libertadores. Além disso há o problema de sermos um país continental, as viagens são muito longas. Estamos a propor que o atleta faça 66 jogos num ano, no máximo, independentemente dos jogos que o clube tenha em calendário. Mas não acredito que a ideia passe.


Os clubes são responsabilizados de alguma forma por causa de incumprimentos?
Não. Essa é uma outra questão para a qual temos procurado alertar, de forma a que o clube tenha punições desportivas.


Que opinião tem sobre a FIFPro?
É uma entidade importante porque é uma espécie de FIFA dos jogadores. O seu trabalho é voltado para os atletas de um modo geral, é uma instituição que está num caminho muito bom no sentido de buscar melhoras para os atletas. O único senão que vejo é que poderia dar um pouco mais de atenção para os outros continentes, está muito focada na Europa. Devia ter ações mais contundentes.


Mas não acha que a maioria dos jogadores não sabe o que a FIFPro?
Eu acho que, muitas vezes, os jogadores nem sabem o que é o sindicato. Ou, pelo menos, nõ se interessam. Temos de trabalhar muito para que os atletas acreditem em nós. Os atletas que não têm muito sucesso sabem muito bem quem são os sindicatos e a FIFPro. Os grandes atletas, que são aqueles que poderiam dar força ao sindicato, não se interessam assim tanto porque são muito ricos e levam uma vida que faz com que não tenham atenções voltadas para estas questões.


Qual é a relação do SAFERJ com o SJPF?
Muito boa. Tem evoluído muito bem, desde 2001, quando o sindicato brasileiro foi para a FIFPro. Os jogadores brasileiros que estão aqui sabem que podem contar com o sindicato português. A relação é muito saudável.


Que mensagem gostaria de deixar para os jogadores brasileiros?
Em primeiro lugar, que saiam do Brasil em segurança, sabendo ao certo para onde vêm. E para aqueles que estão em Portugal, que vejam o SJPF como um aliado amigo que pode orientá-los e ajudar sempre.


PERFIL 

Nome: Alfredo Sampaio

Data de Nascimento: 23 de maio de 1958

Posição enquanto jogador: Defesa

Clubes: Bonsucesso FC (Brasil), Portuguesa FC (Venezuela), Costa do Sol (Moçambique), Ferroviário de Maputo (Moçambique), Rio Ave FC, Guaratinguetá FC (Brasil), Olaria AC (Brasil), Itaperuna FC (Brasil), EPA (Chipre), São Cristóvão FC (Brasil), USA Ragusa (Estados Unidos)