Reciprocidade e bom senso


Ponto prévio sobre a posição que mantenho, desde sempre, em relação ao papel determinante que os árbitros têm para o sucesso do futebol português. Respeito muito esta classe profissional que enfrenta duríssimos desafios e condeno qualquer atitude insultuosa, violenta ou condicionadora da sua atividade. Sabem igualmente desta minha postura o presidente do Conselho de Arbitragem e o meu colega da APAF, Luciano Gonçalves, a quem aproveito para felicitar e desejar os maiores sucessos no seu novo mandato à frente da organização.

Acho, no entanto, que é chegado o momento de refletir sobre a resposta que tem sido dada aos momentos de tensão entre árbitros e jogadores, nomeadamente a ação quase sempre imediata no sentido de exigir processos disciplinares. Da parte dos jogadores não tem existido esta reciprocidade de tratamento e posso assegurar que são vários os relatos de atletas que se sentem humilhados ou ofendidos dentro de campo, não apenas nos casos mais mediatizados, como os que envolveram recentemente atletas do FC Porto, mas outros menos visíveis, como aqueles que alguns companheiros que jogam em equipas da Liga Portugal SABSEG já nos fizeram chegar.

Tenho por convicção que se evoluirmos para um padrão de reciprocidade nesse apelo constante para que se punam todos os árbitros ou jogadores que se excedem durante os jogos, sem qualquer preocupação com o contexto e os motivos que geram incompreensão ou revolta mútua, entraremos num ciclo de conflituosidade permanente que em nada beneficiará o nosso futebol. Foi este o motivo pelo qual o Sindicato dos Jogadores interpelou formalmente a APAF na semana que passou, solicitando uma reunião para debater em que medida ações pedagógicas e concertadas entre as respetivas instituições podem contribuir para responder com razoabilidade e prevenir que episódios deste tipo se propaguem.

Levaremos algumas ideias sobre a identificação, tratamento e ação sobre condutas abusivas, com a humildade de reconhecer que é um tema difícil e muito explorado nos momentos decisivos de cada época. Não contem comigo para promover um clima de guerrilha entre os bons e os maus. Os jogadores exigem o mesmo respeito que os árbitros têm exigido pela sua atividade. Como tudo na vida, o ingrediente necessário para melhorar o estado a que chegámos é o bom senso e saber ouvir aqueles que todas as semanas entram dentro de campo para fazer o seu trabalho, o melhor que podem.

Termino com um sentido abraço ao Ricardo Nunes, agora candidato à presidência do Varzim. É um orgulho ver um jogador que conhece bem os altos e baixos da profissão tomar a iniciativa de iniciar uma carreira no dirigismo, propondo-se a abraçar um projeto que não tem nada de simples, face à conjuntura atual do clube. Contará, como sempre, com o meu apoio para que tenha sucesso.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (14 de abril de 2024)

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