Varzim protagoniza “caso desumano”


Sindicato denuncia comportamento inaceitável do clube poveiro perante o jogador Max.

Em conferência de imprensa realizada hoje na sede do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, presidente da direção do SJPF, denunciou o lamentável comportamento do Varzim Sport Club para com o jogador brasileiro Max. “Além dos atropelos à lei laboral, é um caso de desumanidade”, explicou.

 

Max, 20 anos, foi contratado pelo emblema poveiro no início da época. O Varzim comprometeu-se a pagar ao jogador um salário mensal de 500 euros líquidos durante oito meses (de 5 de setembro até ao final da época – inicialmente o empresário do atleta acenou-lhe com uma proposta de 2500 euros/mês). VEJA AQUI O CONTRATO DE TRABALHO DESPORTIVO.  

“Apesar deste contrato de trabalho o jogador estava convencido de que tinha um mero vínculo desportivo (amador). Entretanto recebeu os salários de setembro e outubro, lesionou-se e em janeiro foi convidado a abandonar o clube. Como recusou foi então proibido de treinar com a equipa, colocado a trabalhar com os juniores e foi nessa altura que denunciou a sua situação ao sindicato. O jogador contactou o nosso delegado da zona norte, João Lucas, e desta forma ficou a conhecer os seus direitos. A sua primeira surpresa foi estar convencido de que tinha um mero vínculo amador quando na verdade tinha um contrato de trabalho desportivo. Dissemos-lhe então que tinha um contrato válido até ao final da época desportiva, direito a receber o seu salário mensalmente e a treinar integrado com os demais colegas”, contou Joaquim Evangelista.

 

O clube poveiro, contactado pelo SJPF no sentido de obter um acordo, em vez de assumir as suas obrigações colocou-se numa posição inaceitável. “O diretor desportivo, com pena minha dado que é um ex-jogador e ex-capitão de equipa, comportou-se de forma pouco digna e incorreta perante o caso. Quando lhe transmitimos, e ele sabia, que a situação era ilegal a sua reação foi a de prejudicar o jogador não lhe permitindo continuar a alimentar-se no restaurante e obrigado a sair de casa. Ou seja, de um momento para o outro, o diretor desportivo Alexandre queria que um colega de profissão saísse de casa e tudo fez, com a concordância do presidente, para que isso sucedesse. Nestas condições o nosso delegado, João Lucas, deslocou-se à Póvoa, trouxe o jogador para Lisboa, demos-lhe alojamento e alimentação e vamos disponibilizar uma viagem para o jogador regressar ao Brasil.

Demos conhecimento desta situação ao sindicato de São Paulo, no Brasil, na pessoa do seu presidente, Rinaldo Martorelli, que imediatamente se disponibilizou para auxiliar o jogador”, adiantou o presidente do SJPF. Martorelli lamentou o sucedido e transmitiu que tem apelado aos jogadores brasileiros para procurarem o sindicato português no sentido de serem esclarecidos. 

Para Joaquim Evangelista, "pessoas com este carácter têm de ser banidas do futebol. Não aceito que haja jogadores ou ex-jogadores que se coloquem do lado das direções para fazer carreirismo. Não é legítimo e aceitável e terão a nossa firme oposição quando, à custa dos colegas que estão mal – salários em atraso, treinar à parte, etc –, se colocam sempre do lado da entidade patronal na procura de um “tacho”.

 

O jogador, entretanto, com o apoio do sindicato rescindiu o contrato de trabalho que agora vai intentar a respetiva ação para pagamento dos créditos laborais. Paralelamente, vamos denunciar este caso à lo à Alta Autoridade para as Condições do Trabalho. Lamento que um jovem com 20 anos, estrangeiro, à procura de um sonho, à semelhança de muitos portugueses que são “obrigados” a emigrar, seja colocado nesta situação de vulnerabilidade e sobretudo tenha sido enganado até agora”, concluiu.

Já o jogador Max afirmou que tentou que as coisas se resolvessem a bem mas tal objetivo revelou-se infrutífero. “O Varzim é um grande clube, com grandes adeptos mas está mal dirigido. Quero agradecer ao sindicato que desde a primeira hora me deu toda a assistência necessária. Graças ao sindicato soube quais os meus direitos, tive comida, casa e esperança em voltar a jogar. O SJPF está ao lado do jogador até ao fim”, adiantando que “falta iniciativa aos jogadores para denunciarem mais casos. Não há pior ameaça para quem está sozinho no estrangeiro que ficar sem a alimentação e alojamento”, disse.

Partilhar