SJPF apoia jovem jogador abandonado


José Tiago, 24 anos, dormiu três noites no aeroporto.

A história do defesa José Tiago, jogador português de 24 anos, é uma história de desespero. O jovem deixou o Marítimo B para rumar ao Chipre, no qual iria representar o Ermis FC.

A proposta foi feita pelo empresário Paulo Faria, em articulação com um agente grego.

Chegado ao Chipre, o clube disponibilizou-lhe um quarto de hotel e José Tiago começou a treinar com os novos colegas.

As dificuldades de adaptação ao novo país e o facto de não falar inglês levaram o jovem jogador a chamar a namorada, Édera, de 19 anos, para o Chipre.

Após alguns dias a treinar à experiência, o Ermis FC decidiu assinar um contrato válido por uma temporada com o jogador português. A remuneração acordada foi de 2500 euros, apartamento, carro e viagens. Contrato que não foi entregue ao jogador com a justificação de que seria necessário reconhecer assinaturas. Contudo, no dia seguinte à assinatura do contrato, José Tiago percebeu que o treinador do clube não contava consigo.

“Num exercício de três para dois, o treinador distribuiu os jogadores e só faltava o meu nome. O jogador Rúben Brígido, que também está no Ermis FC, disse ao treinador que faltava eu, mas ele respondeu que não sabia que eu ia treinar. O director desportivo disse que tinha de falar com o empresário. Fi-lo e ele confirmou que já não contavam comigo e que teria outras propostas da Grécia e do Chipre”, relata o jogador. De nada valeu invocar o contrato porque esse não estava na sua posse.

Para agravar a situação, José Tiago e a namorada foram informados pelo hotel que o quarto onde estavam alojados tinha deixado de ser pago pelo clube.

Sem alternativa, José Tiago viu-se num beco sem saída e foi forçado a procurar as expensas próprias, dormida e comida. Depois de duas semanas a suportar todos os encargos, sem mais dinheiro e sem resposta do agente, dirigiu-se ao aeroporto de Larnaca onde dormiu três noites. “Dormimos três noites nos bancos, a comer sandes”, conta o jogador.        

Desesperado e sem meios para regressar ao seu país, José Tiago entrou em contacto com as autoridades locais e com o Consulado em Nicósia. Ao mesmo tempo, um cunhado alertou o Sindicato. As autoridades, devido às formalidades, tardaram em resolver o problema.

Confrontado com o drama vivido por José Tiago, o SJPF entrou imediatamente em contacto com o jogador, marcou e pagou online a viagem de regresso do jovem futebolista e da sua namorada para Lisboa.

“Quero aproveitar para agradecer ao Sindicato, que num momento dramático para mim e para a minha namorada, respondeu imediatamente ao meu apelo. Sem dinheiro e sem expectativas sentir o apoio do Sindicato foi um alívio. Reconheço agora a importância do SJPF e aproveito para alertar os meus colegas de profissão para a necessidade de se informarem quando vão para o estrangeiro”, disse o jogador no final desta aventura.

O jogador já denunciou ao Sindicato este atropelo, que procurará junto do clube e dos empresários envolvidos que o jogador seja ressarcido dos danos causados.

Em simultâneo, o Sindicato vai comunicar o sucedido à FIFA, FIFPro, UEFA, ECA e EPFL, bem como à federação e sindicato do Chipre.

Perante a situação vivida por José Tiago, o presidente do SJPF, Joaquim Evangelista, alerta os jogadores para a necessidade de se esclarecerem junto do seu Sindicato antes de assinar contrato no estrangeiro. “Os jogadores têm de ser mais activos. Devem procurar saber quem são os empresários, as pessoas envolvidas, se têm idoneidade, se são conhecidos no meio. Por outro lado, devem procurar saber se o clube tem ou teve problemas e receber previamente por escrito as condições contratuais. Quem vai para um país estrangeiro também deve assegurar as condições mínimas financeiras para a sua estadia. No momento de assinar deve exigir que o contrato seja feito numa língua que entenda e deve SEMPRE ficar com uma cópia do mesmo, bem como dos documentos que assina.”

O presidente do SJPF alerta ainda para a situação grave que se verifica no Chipre. “Há um sentimento de impunidade dos dirigentes e dos empresários que acham que vale tudo. Não é suficiente implementar circulares ou aprovar regulamentos. É preciso fiscalizar, avaliar e isso não está a ser feito. Há um conjunto de pessoas que representam múltiplos interesses e que quando tem de tomar posição estão comprometidos. No Chipre vale quase tudo e isso não pode suceder. Desculpem a expressão mas é preciso limpar esta merda do futebol de vez. É preciso alguém no plano nacional e internacional que denuncie estes bandidos. É disso que estamos a falar, de grupos organizados que não respeitam direitos fundamentais. O desporto tem um valor fundamental para a sociedade, para os jovens. É nosso dever protegê-lo.”

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