Epifania mundial


Portugal entrou no Campeonato do Mundo com vontade, espírito de sacrifício e muita alma. Fomos enormes e o empate com a Espanha, não traduzindo uma grande exibição, é um resultado que se aceita do ponto de vista da eficácia. Sobretudo pelo que Cristiano Ronaldo fez, individual e coletivamente.

Foi ele que durante os noventa minutos marcou o ritmo, mobilizou os colegas, deu esperança ao país. Quando ele diz "eu estou aqui", já o disse antes, está ele e mais 11 milhões de portugueses! A relação que criou com os portugueses, de fé, de orgulho, de identidade, define a sua energia dentro de campo e a nossa de fora a apoiar. Com Ronaldo como denominador comum, há algo que nos une, que beneficia o futebol, beneficia o desporto, beneficia o país.

Que o Mundial tenha esse efeito mobilizador e renovador. Deixem-nos respirar futebol. Com os amigos, com a família, com as pessoas todas. Queremos ver os nossos ídolos e ajudar a criar os novos. Deixem-nos ver os jogos, todos os golos. O Mundial para quem gosta de futebol é a realização de um sonho. Por favor, não nos incomodem com minudências.

Seguimos na luta e quarta-feira, diante Marrocos, esperam-nos mais noventa minutos de união, em torno daquele futebol que merece ser visto e falado, exaltando o orgulho que temos nos nossos jogadores e no país das quinas que transportam ao peito.

Como esta Seleção e o selecionador já nos ensinou, não importa o adversário ou o ranking que ocupa, há que encará-lo com todo o respeito, humildade e dedicação.

Nota final para o desgaste físico dos atletas que participam nesta competição. Sendo certo que a forma física dos jogadores vai progredindo à medida que se ajustam aos ritmos competitivos e às características ambientais, e que a primeira jornada não é o melhor barómetro para avaliar a disponibilidade física das equipas, vi sinais de fadiga ou menor intensidade em atletas que contam com muitos jogos nas pernas.

Estou a ver o Tunísia-Inglaterra (ainda empatado) e a discutir com amigos, o que de mais interessante aconteceu até agora. O Mundial é isto, uma epifania mundial!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (19 de junho de 2018)

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